III - VONTADE PÚBLICA X OPINIÃO PÚBLICA

O seqüestro da informação aciona as turbinas da cadeia de corrupção política da vontade pública. Essencial à falsificação da agenda social, a pré-fabricação de opinião pública, a antivontade pública, é a mina de ouro da GMB. Pesquisas de resposta a tudo menos ao que realmente interessa investem o conjunto de conglomerados da condição de porta-voz da sociedade, sócio reconhecido do poder pela capacidade de produzir ou neutralizar pressão. Apenas um pré-requisito: a unidade do bloco.
Sem monolitismo, a GMB não exibiria a musculatura de partido único típico de ditadura social. O Estado Democrático de Direito convive com um poder paralelo - o sindicato da mentira - consolidado no arrombamento constitucional que liberou geral o saque privatista. Pesquisas pré-direcionadas despistam os movimentos da GMB na contramão do projeto nacional e abrem espaço à ação de grupos predadores dos ativos nacionais, tangíveis e intangíveis, direitos sociais inclusive.
A falsa democracia de opinião camufla o leilão da credulidade popular na bolsa de valores política. A necessidade de produzir opinião pública incessantemente, na vaga da vontade pública dissolvida, ejetou o jornalismo para trás. Massa pré-cozida de opinião pública, a unanimidade das notícias de todas as mídias esgotou as últimas reservas éticas das grandes redações. Fosse apenas estratagema de faturamento de status, a fabricação de opinião pública fatalmente acabaria desmoralizada pelos fatos. Isso já aconteceu - a credibilidade da grande mídia caiu em nível inquietante - mas o beco não tem saída.
O engarrafamento de fumaça colorida - o que é na verdade a indústria da opinião pública - não pode ser cortado abruptamente. Além de instrumento de chantagem e de cooptação, opinião pública sob encomenda funciona como vitrina de suborno da classe média, na exposição de seus objetos de desejos simbólicos. Chantagem e suborno, o duplo fim esperto do engarrafamento de opinião pública, tudo a ver com arrastão.
É saque dos bens subjetivos coletivos disponíveis no espaço público. Casco do país continental, diversificado étnica e culturalmente, socialmente heterogêneo, o Brasil Real rejeita a unipluralidade da informação/opinião à base de desigualdade social. Versão avançada da integração nacional pela escravidão do Império, a coesão pela desigualdade rachou, notícia que a GMB nunca dará, por trair sua cumplicidade na consumação do apartheid social.
Antes de desaprumar os compromissos do PT, a corrupção unimultimidiática capturou os neurônios da intelectualidade, depositária fiel do imaginário social brasileiro. Em troca de brilhatura bissexta nos cadernos de cultura, nenhum questionamento dos cânones elitistas de interdição ao debate e esterilização das expressões de diversidade cultural e pluralidade política; nada contra a reprodução certificada das culturas de alheamento, dessensibilização e desidentificação que naturalizam e inevitabilizam a desintegração social; um e outro pio contra o fundamentalismo da colonização de corações e mentes.
A intelectualidade oficial legitimou, por omissão, a deseducação, a dessociabilização e a desagregação em massa programadas da grande mídia. A intelectualidade oficializa, na academia, os paradigmas de exclusão social pela informação, que retiram da GMB a característica de serviço de interesse público. Nada contém o ímpeto socialmente canibalizador da tropa de choque das elites. Pelo controle social da Grande Mídia Brasileira!
            
Carlos Alberto Kolecza, jornalista.